terça-feira, 29 de março de 2011

Ninguém sabe.

Com o olhar certo, e com o sorriso nos lábios, neste momento tornava-me um retrato perfeito de mim mesmo, pronto encher qualquer página de qualquer revista, e tinha a certeza que qual seja o leitor ia parar para me ver, eu era confiante, eu sabia o que valia, e isso ninguém me podia tirar, achava eu.
O fotógrafo falava em algo como captar a “essência”, não sabia bem o que ele queria, era modelo, não filosofo… Ele parou e olhou-me nos olhos, arrepiou-me aquele olhar, disse-me com tanta fugacidade, com tanta verdade “a minha essência é captar a história que tu me contas com os teus olhos.” A minha pele reagiu efusivamente aquelas palavras, naquele momento onde eu era melhor tornava-se um acto complexo, fotografar. Tive medo, admito, permaneci numa ataraxia assustadora, os olhos dele pareciam olhar para algo que ia muito alem dos meus olhos, senti-me nu, não havia mais mascaras, ele agora dizia “essa é a tua essência”. Acho que tinha acabado de conhecer a minha voz interior, naquele momento parecia saber mais de mim do que eu permitia, ele sabia o que mais ninguém sabe, mas pela primeira vez isso não me assustava, ele não me julgava, eu não tinha medo.
Deu-me indicações, senti-me como um aspirante a modelo, era como um começar, ele disse que agora conseguia ler a minha história, o brilho dos meus olhos era evidente, surpreendia-me a mim mesmo os resultados, confesso. Sentia-me a escrever com as mesmas palavras dos mais experientes escritores, o meu corpo movia os contornos da história, os meus olhos faziam o desfecho dos protagonistas.
Onde dantes havia só fotos bonitas, agora havia um contador de história que ninguém sabia existir, que ia muito além de uma imagem parada, por vezes com a mesma complexidade de um livro que tinha a capacidade de te fazer sonhar.

domingo, 28 de novembro de 2010

Premonição

Mais uma noite em branco, mais uma marca que se acrescentava a minha pele, mais uma luta contra mim mesmo vencida. Não sei bem até quando iria conseguir vencer estas batalhas... quando eu próprio sabia que a guerra estava a muito perdida.

Lembro-me da primeira vez que acordei os gritos com as lágrimas que rasgavam a minha pele…quando eu disse-lhe pela primeira vez o que via enquanto dormia… Lembro-me do abraço forte naquele momento da minha mãe enquanto prometia que estaria ali sempre, a verdade é que no mês seguinte já lá não estava e eu sabia disso. Despedi-me sem ela saber, mas era inevitável lutar contra algo que não estava nas minhas mãos, e eu só tinha 11 anos.

As vezes são coisas ligeiras como a nota que ia ter no teste que ainda nem tinha feito, ou mesmo uma conversa que iria ter que muitas vezes acabava por não ligar muito porque eram sobre coisas que ainda nem tinha vivido, outras vezes eram coisas que viravam o meu mundo o avesso, como um acidente que eu não podia mudar, como a perda de alguém que eu não podia evitar, era obrigado a fazer um luto enquanto as pessoas ainda estavam vivas, era como se a vida fosse um caminho já percorrido e inevitável de não percorrer.

Os meus últimos sonhos afastavam-se de todos os outros, dentro dele atingia dimensões que até a mim faziam confusão. O simples acto de dormir tornava-se num inferno. Antes eu era simplesmente um espectador do meu sonho, neste eu passava a ser um actor da própria realidade. Ia para além do que eu próprio estava pronto. O pânico instalava-se cada vez que a luta com os meus olhos eram perdidas, e uma dor maior cada vez que acordava. Um mundo descomplexado, e difícil de decifrar. Cada noite era um pedaço de mim que ficava preso na ilusão da realidade.

Não sabia quantos mais sonhos ia sobreviver, não sabia quantas mais noites ia viver, não sabia quando a minha própria morte iria ser obrigado a reviver.

Até que ponto saber o fim nos pode ajudar a escrever o inicio quando o meio é irreversível… por vezes a minha dor chegava mesmo a ser esmagadora.

domingo, 12 de setembro de 2010

No escuro o meu respirar era a única coisa que se fazia soar pelo quarto, que agora fazia uma sinfonia perfeita

com minha barriga, ouvia o som dos carros e o mais intrigante deste silencio todo é que eu ouvia o barulho do próprio silêncio, quando repeti esta frase em voz alta eu próprio a achei estúpida mas o mesmo tempo tão verdadeira. Deitado com o peito para ci

ma olhava em frente vendo um nada perante aquela escuridão, era só eu mas o mesmo tempo sentia o mundo a surgir a minha volta… Uma lágrima libertava-se de mim quase consegui-a imaginar o brilho verde que agora surgia no meu olhar, mas ela não conseguia percorrer o seu caminho devido a minha posição, estava imóvel como eu, revi-me naquela lágrima com tanto a minha volta eu também me sentia preso agora, senti um aperto no meu peito e uma grande nostalgia atravessar o meu corpo, nos meus lábios nascia um sorriso trémulo. Eu estava confuso com aquela reacção do meu corpo, o buraco entre os olhos e o nariz que prendia a minha lágrima agora enchia-se obrigando as lágrimas atravessar a minha face, levantei o tronco da cama ficando sentado com pernas de chinês, chorei em silêncio, sem saber porque, tentei eu convencer-me a mim próprio múltiplas vezes.

O meu despertador foi a única coisa que se atrevera a quebrar aquele gelo que agora eu me envolvia, levantei-me deixando as marcas do sufoco na cama, estava pronto para voltar a sorrir assim que atravesse aquela porta que me privava do mundo, eu sabia que sorriso voltaria a iluminar-me a cara.

A chegar a porta no meu pensamento estava a duvida de qual das vezes o meu corpo agora se ressentia da falta de lágrimas, mas ao atravessar aquela porta tudo ficou nela não conseguindo resposta assim a minha pergunta... Os olhos dos outros o meu único problema era não ter problemas, mas não os culpo eu próprio as vezes me convencia do mesmo…

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Falso Testemunho

Eu não podia dizer… eu queria mas não podia… eu não escolhi… eu fui escolhido…

Lembro-me de estarmos na piscina a brincar e de no meio da brincadeira haver uma mão indiscreta, mas senti-me feliz era algo másculo tocar-nos assim uns nos outros! Era quase como uma prova da nossa masculinidade, ainda hoje não consigo evitar o sorriso quando penso nisso, fui tão ingénuo… sentia-me um deles nessa altura… O toque dele era como um passo para a minha integração do grupo dos mais velhos, era como se eu fosse um deles agora, eu com dez ou onze anos fazia parte do grupo dos de quinze ou dezasseis…

Espera… Houve mais… Mas é um bocado constrangedor falar disso… eu recordo-me que havia um jogo que nos íamos um a um o quarto dele e era a minha vez e fui, na ignorância da idade estava feliz era a minha vez agora, não lembro-me bem do que consiste o jogo, mas o jogo comigo foi diferente, o jogo que mudou a minha vida… Não consigo evitar, é algo que me marcou desculpa as lágrimas… Eu entrei no quarto, ele trancou a porta, eu não estranhei, lembro-me das palavras dele “Queria-te mostrar uma coisa mas não podes dizer a ninguém é uma coisa de mais velhos!”, lembro-me de esboçar um sorriso de felicidade plena, “era mesmo um deles!”, pensei.

Ele começou a despertar o botão das calças, o meu coração começava a acelerar, lembro-me de provavelmente ter corado um pouco, os botões tinham acabado, tinha uns boxers pretos e puxou-os para baixo e perguntou-me “Queres tocar?”, eu não reagi, senti o meu coração a querer sair do peito, “Nós costuma-mos fazer isto entre nós!”, naquele momento tudo se resumia aquilo “ser um deles”. Devagar levei a minha mão até o pénis dele, enquanto ele me desapertava as calças, puxou-me para baixo as cuecas e perguntou-me se queria que lhe fizesse o mesmo, acenei com a cabeça que sim, ele tocou-me no pénis, sentia algo que nunca tinha sentido, era agradável, ele perguntou se queria saber a que sabia apontado para o pénis dele, eu recuei, ele disse que fazia o mesmo com os outros, era algo normal, a medo aproximei a minha boca do pénis dele, ele avisou-me “Cuidado com os dentes!” pós a mão na minha cabeça e discretamente ia empurrando para baixo, era um sabor esquisito, nunca mais me esqueci do mesmo, durante muito o tempo senti-a o arder na boca o sabor… Senti-o a relaxar, e parei, ele disse que agora era a vez dele deitou-se no chão e disse para me por o contrario, mais tarde vi a descobrir que era o 69, era um prazer muito forte que senti quando a boca ele tocou no meu pénis, quase que não conseguia voltar a por o dele na boca com o prazer que sentira, não tenho a noção do tempo que estava no quarto, mas parecia-me que tinham passado anos, ele disse-me que queria experimentar uma coisa comigo, eu ia ser o primeiro, senti-me o importante, ele era o meu ídolo, mostrou-me a posição, obediente coloquei-me nela. Senti algo duro, a tentar perfurar-me era um dor insuportável, lembro-me de libertar um silêncio na espera de “assim como quer, som! através da surdez!” Ouvi um barulho do carro que o obrigou a parar de imediato ignorantemente não percebi porque, mas agradeci a dor era insuportável, a pressa vestiu-se e mandou-me vestir, dizendo que o jogo acabou…

Naquele quarto ficou o resto da minha infância, agora havia dor, os meus olhos nunca mais esqueceram, o meu corpo ficou machado, teias da aranha afastavam-me do mundo real, e agora era a minha vez de escolher, e eu escolhi-te a ti…


terça-feira, 29 de junho de 2010

Fénix

No mundo de máquinas autónomas, das palavras secas e dos actos duros e onde o amor não passava de uma ilusão de televisão, ganhei coragens para desafiar a gravidade.

Na mão trazia o copo, no coração trazia as palavras magoadas da solidão que a minha vida se transfigurava. Debruçava-me sobre o nada arriscando um tudo, convencia-me a mim mesmo que a culpa desse meu acto estava agora no copo vazio, que por falta de forças caia no chão, acreditei que ao embater no chão ia soar como um grito silencioso. Eu esperei sem saber pelo que esperava. Tinha medo de viver, mas sede de vida.

Naquele momento a minha vida resumia-se o vento que me passava na cara, as lágrimas que os meus olhos libertavam, invejando-as elas agora estavam livres e eu continuava preso a incerteza da certeza que queria mudar.

As tuas mãos que agora tocavam no meu corpo frio, tinham efeito de agulhas, o teu toque era tão real. Senti-me com uma Fénix e agora estava pronto para reaprender a viver.

Afinal o toque das pessoas que amamos fazem milagres o coração, e é para sempre?

(Eu pedi autorização para usar a foto)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Silêncio"


Dois corpos caídos sobre as dúvidas da vida, a vontade de querer já não eram superiores a mágoa sentida. O meu corpo ainda sentia as tuas mãos, a humidade dos teus dedos cravados ainda se ressentiam na minha pele. Dois amantes debruçados por um amor que os uniu.
A vontade de querer afastava-se da capacidade de conseguir, os olhares trocados eram agora abandonados, os momentos vividos foram agora esquecidos ao som de palavras mágoas, que eram desmentidas pelo toque tímidos de duas almas que há muito eram uma só.
Um amor… uma paixão… uma vontade de querer ou a ilusão de poder… tantas linhas haviam para escrever destes dois corpo que a vida uniu e que a mão do homem separou…
Hoje duas almas perdidas, ainda marcadas pelo que as unia…

"Eu só sou eu quando escrevo, os outros são as mascaras que agente veste... para sobreviver, aos poucos agente vai tirando, com decorrer dos anos agente percebe que não precisa tanto delas..."
Barbara Paz


A base deste texto é a foto, a maneira como eu a interpretei. Dando vida o "silêncio" destes dois corpos que tanto tem para contar.

domingo, 21 de março de 2010

Chama

Eu chamava amizade

…eras o apoio onde a cabeça repousava quando o mundo uivava os meus ouvidos, por ti os meus caninos cresciam, lutava esperneava, havia quem me dizia que fazia de mais, mas eu sentia que não, e que do outro lado da linha tu fazias o mesmo por mim.

Hoje a chama ardia mais alto que nunca, mas eu mantinha a firmeza no olhar, estava disposto a ultrapassar essa chama, porque sabia que por ti ela não me ia queimar, caminhei subtilmente, com um sorriso nos lábios que fazia o outro lado da chama desconfiar o que o meu pensamento criava, senti uma chama enorme a possuir-me o corpo uma como nunca senti, não sabia o que era, o olhar fraquejava, tinha ultrapassado a chama, mas agora olhava sobre mim, estava … senti que não valias a pena, a dor que a minha pela ressentia a dor, a dor que me fixes-te sentir mostrou-me que não valias o tanto que de mim te dei, eras simplesmente uma parcela da felicidade consumida que o tempo detonou.